quarta-feira, 10 de maio de 2006

Portugal marca!... IV

O estudo de mercado "O Poder de Sedução de Portugal", levado a cabo pela empresa TNS Portugal, concluiu que os portugueses não se interessam pelo seu país, são pessimistas e estão pouco preocupados com o futuro da pátria. Alguma novidade? Penso que não. Basta ver a forma como tratamos do nosso bocado - seja no património ou no urbanismo, na defesa do ambiente ou no cuidado com a paisagem - para confirmar o desinteresse geral por "isto" que nos rodeia. É óbvio que, em geral, nos estamos "nas tintas" para o país e preocupados apenas com a nossa "vidinha".

"Se Portugal fosse uma marca, e se nada fosse feito, estaríamos em risco de desaparecer" - Luís Simões, da empresa TNS Portugal, chega a esta conclusão ao observar o tal estudo à luz dos critérios que determinam o valor de uma marca, da notoriedade à fidelização, dos sentimentos que desencadeia nos "consumidores" à "imagem" que transmite.

Parece-me, no entanto, que Luís Simões é um optimista - porque Portugal, com ou sem estudos sobre o seu poder de sedução, desaparece todos os dias um bocadinho, submerso pela inevitável globalização, fragilizado pela sua posição na Europa, negligenciado por Governos que estudam a "marca" em ciclos de quatro anos - e cujo marketing se serve do país sem servir o país.

Portugal até consegue prever o seu desaparecimento - na segunda-feira, aqui no DN, revelava-se uma projecção europeia que coloca o nosso país, daqui a 40 anos, na cauda de todos os países europeus (incluindo os pós-alargamentos), por conta do envelhecimento da população e da reduzida produtividade. Ou seja, além de desaparecer a olhos vistos, Portugal consegue olhar a catástrofe à distância. E, provavelmente, nada fazer para a evitar... Visto isto, no presente e no futuro, Portugal tem efectivamente pouco interesse - mesmo como "animal em vias de extinção", não é muito apetitoso para estudar, falta-lhe originalidade e especificidade.

Resta-nos o humor. Rir de nós próprios, rir tristemente da nossa miséria. Não é por acaso que os últimos anos viram nascer um conjunto generoso de talentos nessa área. Para gozar, não há melhor. Mas é preciso aproveitar agora. Antes que o país se apague de vez.

Pedro Rolo Duarte - DN 10-5-2006