Mais outro que os meus amiglos chamariam fascista?
Nuno Rogeiro na edição de hoje (5-5-2006) do DN:
Oministro do Interior francês, Nicholas Sarkozy, relança a campanha "França ame-a ou deixe-a". Trata-se de uma tentativa algo trapalhona, mas humana (demasiado humana), para incutir auto-estima no francês médio, e incentivar os estranhos, desenraizados e frustrados - os suspeitos aparentes do costume, na última crise dos carros queimados - a fazer as malas.
Na mesma França, por razões puramente "ideológicas", Robert Brasillach dizia há uma "guerra civil europeia" atrás, e à beira do fuzilamento, "mon pays me fait mal".
Por outras palavras, "o meu país desgosta-me".
Às vezes, há razões incontroversas para se gritar isto. E claro que se pode ser patriota, e não apreciar a situação no seu país. Em muitas alturas, ser patriota é mesmo não gostar do estado da Pátria. Se esta estiver ocupada, devemos sorrir? Se o regime que a incarna representar a injustiça, a miséria, a repressão, devemos conformar-nos? Se o Estado não assegura uma vida digna, ou se a impede, só resta o silêncio?
Claro que não. A revolta contra o que está mal é um sinal de vitalidade, um direito e um dever. As revoluções são, foram e serão precisas, quando não há outra via mais cordata. A reforma deve fazer parte dos programas de partido, de Governo, de Estado, em meios carentes de regeneração. O protesto e a reclamação, a queixa e o voto, a acusação e a denúncia são meios comuns de inconformismo, entre a "sociedade civil".
Pior é quando não se gosta, e nada se faz, a não ser erguer um mundo de lamentações.
Um estudo recente (comparando a nação a uma marca) diz-nos que muitos portugueses sofrem de desespero nacional. Não gostam do Portugal presente, sobretudo por questões materiais (falta-lhes emprego, estabilidade, saúde, segurança), apesar dos sucessos futebolísticos, dos reality shows optimistas, ou das ingénuas campanhas a favor da auto-estima.
A consulta diz pouco, porém, sobre aquilo que os descontentes querem fazer, para melhorar, e mudar de vida.
Poucos ligam o seu estado a más escolhas eleitorais, ou a falta de participação política não eleitoral. Poucos apresentam caminhos ou escolhas. Poucos propõem um movimento de libertação ou, mais modestamente, de reabilitação.
As soluções mais fáceis aparecem, a espaços, como populares alguém (incluindo o vago "estrangeiro") "que tome conta disto", ou a partida para os velhos Eldorados da Europa e da América do Norte.
Somos, ao que parece, "euro-optimistas", mas "luso-pessimistas".
As razões para não apreciarmos a vida corrente são óbvias basta ver a degradação das grandes cidades, apesar das obras e promessas.
As razões para não agir - num povo que foi à China e ao Japão - são menos claras.
Dir-se-á que os portugueses dormem. Mas, quem dorme, ou morre ou acorda.
Nuno Rogeiro na edição de hoje (5-5-2006) do DN:
Oministro do Interior francês, Nicholas Sarkozy, relança a campanha "França ame-a ou deixe-a". Trata-se de uma tentativa algo trapalhona, mas humana (demasiado humana), para incutir auto-estima no francês médio, e incentivar os estranhos, desenraizados e frustrados - os suspeitos aparentes do costume, na última crise dos carros queimados - a fazer as malas.
Na mesma França, por razões puramente "ideológicas", Robert Brasillach dizia há uma "guerra civil europeia" atrás, e à beira do fuzilamento, "mon pays me fait mal".
Por outras palavras, "o meu país desgosta-me".
Às vezes, há razões incontroversas para se gritar isto. E claro que se pode ser patriota, e não apreciar a situação no seu país. Em muitas alturas, ser patriota é mesmo não gostar do estado da Pátria. Se esta estiver ocupada, devemos sorrir? Se o regime que a incarna representar a injustiça, a miséria, a repressão, devemos conformar-nos? Se o Estado não assegura uma vida digna, ou se a impede, só resta o silêncio?
Claro que não. A revolta contra o que está mal é um sinal de vitalidade, um direito e um dever. As revoluções são, foram e serão precisas, quando não há outra via mais cordata. A reforma deve fazer parte dos programas de partido, de Governo, de Estado, em meios carentes de regeneração. O protesto e a reclamação, a queixa e o voto, a acusação e a denúncia são meios comuns de inconformismo, entre a "sociedade civil".
Pior é quando não se gosta, e nada se faz, a não ser erguer um mundo de lamentações.
Um estudo recente (comparando a nação a uma marca) diz-nos que muitos portugueses sofrem de desespero nacional. Não gostam do Portugal presente, sobretudo por questões materiais (falta-lhes emprego, estabilidade, saúde, segurança), apesar dos sucessos futebolísticos, dos reality shows optimistas, ou das ingénuas campanhas a favor da auto-estima.
A consulta diz pouco, porém, sobre aquilo que os descontentes querem fazer, para melhorar, e mudar de vida.
Poucos ligam o seu estado a más escolhas eleitorais, ou a falta de participação política não eleitoral. Poucos apresentam caminhos ou escolhas. Poucos propõem um movimento de libertação ou, mais modestamente, de reabilitação.
As soluções mais fáceis aparecem, a espaços, como populares alguém (incluindo o vago "estrangeiro") "que tome conta disto", ou a partida para os velhos Eldorados da Europa e da América do Norte.
Somos, ao que parece, "euro-optimistas", mas "luso-pessimistas".
As razões para não apreciarmos a vida corrente são óbvias basta ver a degradação das grandes cidades, apesar das obras e promessas.
As razões para não agir - num povo que foi à China e ao Japão - são menos claras.
Dir-se-á que os portugueses dormem. Mas, quem dorme, ou morre ou acorda.