Os debates televisivos com candidatos presidenciais parecem ter desiludido muita gente. Teriam talvez preferido confrontos violentos, com constantes interrupções impedindo completar uma única frase, muito menos formular uma ideia. Ora estes debates, no formato americano, evitaram essa confusão e tiveram notáveis níveis de audiência. Decerto, eles não trouxeram novidades - mas como as poderiam trazer? E os intelectuais ficaram frustrados com o conteúdo do que foi dito. O provincianismo nacional acha que, "lá fora", as discussões políticas são de elevada craveira cultural e política.Culminando três meses de campanha pela negativa, provocando permanentemente Cavaco Silva, no último debate, M. Soares atacou não só o adversário, como até a comunicação social. E fê-lo de modo tão crispado, com críticas pessoais ("ele" não lê livros, não sabe história, não tem conversa, etc.) e insinuações deselegantes (os líderes europeus telefonavam-lhe a dizer mal de Cavaco), que o feitiço poderá ter-se virado contra o feiticeiro, afectando a imagem pública de Soares. É certo que Soares nunca teve grandes escrúpulos em batalhas eleitorais. Em 1980 referiu a situação familiar de Sá Carneiro. Há vinte anos a sua campanha presidencial pintou Freitas da Amaral, na segunda volta, como um tenebroso fascista. No debate de terça-feira Soares não foi tão longe, mas usou um tom desagradável que lhe pode custar alguns votos, sem ter prejudicado Cavaco.Os críticos dos debates esquecem o objectivo essencial de cada candidato na TV ganhar votos ou, pelo menos (sobretudo no caso de Cavaco Silva), não os perder. O resto era secundário. Os adversários de Cavaco apostavam nos debates para se chegarem a ele nas sondagens. Ora isso até agora não aconteceu, o que explica boa parte da frustração.