Dizem, que num dia destes irão fazer uma homenagem ao grande António João Pais Miranda!...
Será uma parceria entre o Agrupamento 0604 do CNE e o Grupo de Teatro Pais Miranda, a realizar nos jardins das piscinas...
Eu conheci o António João, nos primeiros ensaios na fundação do Rancho Folclórico Infantil de Canas de Senhorim, e deste logo compreendi como ele era exímio na arte de ensaiar, ensinar, comunicar... Poucos sabem como ele era exigente, chato mesmo, profissional até nas mais pequenas coisas...
... Depois do 10+7, uma máquina de talentos, ele foi o primeiro a aproveitar homens e mulheres canenses, com mais alguns de localidades próximas que tinham capacidades técnicas inexistentes em na Vila principalmente acordeonistas e outros músicos... Outra, por ventura a primeira, grande produção teatral foi “O Nazareno”, que contava com mais de 100 pseudo-actores a maior parte dos quais escuteiros (se calhar todos os escuteiros na altura) e isso valeu-lhe o título de Escuteiro Honorário (?), concedido pela Junta Central do CNE...
A sua capacidade teatral não ficava pela coreografia ou o ensaio, juntava também a autoria de textos para comédia e a capacidade ímpar de levar a cena Teatro Revista... A recolha etnográfica, dicionário de termos canenses, letras de músicas para o teatro, para o Carnaval... Basta lembrar que, ainda hoje, a letra da música do Paço é da sua autoria, sendo ele um Rossiense dos 7 costados... Também, uma letra e música a recuperar digitalmente, que serviu como hino do GDR...
Não me esqueço, porque ele fazia questão de sempre nos lembrar, da nossa luta de emancipação municipal... Se houve alguém que lutou contra o Zé Colmeia, foi ele... A Câmara de asnelas... Que ele chamava, recuperando a sátira sujeita a censura nos tempos antes do 25 de Abril no Teatro revista, de “Madrasta”... A nossa “Madrasta”... Lembro-o com saudade, numa tentativa de luta contra a campanha do Zé Colmeia, quando este foi fazer uma comício à praça... O António João queria ir para a frente da praça tocar tambores, para ninguém o ouvir... Mas ninguém foi na dele... A negociação com o MRCCS já estava feita... Na minha luta pelo concelho, eu sempre o tive como exemplo a seguir (um dia eu conto em pormenor)!
Ainda me lembro, como se fosse hoje, a perfeição que ele incutia nos nossos ensaios... Nos meus ensaios!...
- Mais uma vez, ainda não é bem assim!... - E lá ficava eu, noite dentro a repetir uma frase até ao ridículo... e depois, quando toda a peça estava ensaiada e repetida 10 vezes ele terminava a noite:
- Pronto, agora só mais uma vez do princípio, sai como sair!...
- Ai o raio do homem... - Pensávamos
Será justo reconhecer-lhe, mas também à Leta e à Dores, a paciência titânica de aturar 25 crianças em ensaios no Rancho... Só quem lá andou é que consegue imaginar!...
Certo dia, farto de nos ouvir, bateu com a porta e foi para casa. A rapaziada decidiu ir pedir-lhe desculpa a casa (Av. da Pedras Altas)... Dois ou três foram-lhe pedir desculpa (e ele desculpou), o resto da comandita comeu-lhe todos os “Colhão de Galo” que tinha na vinha...
Bem, há tanto para lembrar, a começar no Café Rossio, acabando no "Rock Danger"...
A mim, ele incutiu-me valores, entre os quais a alegria e a luta municipal... Não me esqueço, de ir visitá-lo ao Hospital dos Covões, nos últimos dias, em que me apetecia chorar e foi ele a animar-me, satirizando a sua situação:
- Sabes ando agora aqui na procissão das velas*!...
*as velas eram o cabide que todos os doentes tinham onde penduravam o soro!