segunda-feira, 30 de outubro de 2006

A APFN dixit

No próximo dia 19 de Outubro, a Assembleia da República vai discutir uma absurda proposta de referendo, com o seguinte teor:

“Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?”

Este referendo destina-se a dar cobertura ao absurdo Projecto de Lei "Sobre a Exclusão da Ilicitude de casos de Interrupção Voluntária da Gravidez".

Ambos os documentos são incluídos em anexo.

Faz sentido em falar-se e, pior, escrever-se, "Interrupção"?

"Interromper" é suspender um processo que possa ser mais tarde retomado. Por isso, uma gravidez nunca pode ser interrompida, porque a vida é ininterruptível. Há quem não acredite nisso, e, por isso, há pessoas que, voluntariamente se sujeitaram à sua crio-congelação na esperança de, "mais tarde", serem descongelados e reanimados. Mesmo nestes casos, excelente exemplo de exploração da ignorância de pessoas por parte de médicos com falta de escrúpulos, não se pode falar de interrupção da vida enquanto não existir uma reanimação com sucesso.

Faz sentido em falar-se e, pior, escrever-se "voluntária"? De quem?

Como toda a gente sabe, uma mulher está grávida porque ainda tem o seu filho "na barriga". A gravidez é uma "relação a dois", mãe e filho. E uma relação a dois pode ser sempre quebrada por vontade de qualquer um, mas só pode ser designada por quebra "voluntária" se for por vontade, ou pelo menos concordância, de ambas as partes. No caso de aborto, isso NUNCA acontece! Mesmo no aborto espontâneo, o fim da gravidez é por razões alheias à vontade de ambos.

É tão absurdo designar-se o aborto provocado como "interrupção voluntária da gravidez" como as cada vez mais frequentes mortes de companheiros ou companheiras como "interrupções voluntárias de namoro".

Faz sentido falar-se, e ainda por cima escrever-se, "despenalização"?

Os proponentes não sabem que, através da Portaria 567/2006, está actualmente fixado, nos nºs 380 e 38, o pagamento de 829.91 euros por Aborto simples e 1.074,45 euros Aborto complexo? Por outras palavras, o que está em causa não é "despenalizar", mas sim "financiar?

Faz sentido em ser por opção da "mulher"?

E o pai, não tem nada a opinar? Para os proponentes, o pai é apenas "o outro responsável da concepção", como referido na página 5 da proposta de lei? Que ideia têm estes proponentes sobre Vida, Maternidade, Paternidade, Família? Que dramática experiência de vida tiveram estes proponentes, para quem a figura do seu pai se resume à de um mero "outro responsável pela concepção"? Que pensam os pais destes proponentes sobre os filhos que têm este conceito de si?

Faz sentido falar-se, e ainda por cima escrever-se, 10 semanas?

O Projecto de Lei não propõe o financiamento do aborto provocado com o consentimento da mãe até às 16 semanas, por "razões económicas e sociais"? O que são "razões económicas e sociais"? Ainda por cima simplesmente avalizadas por uns "Centros de Acolhimento Familiar (CAF)" que, pela leitura do projecto de lei, não são de acolhimento e, muito menos, familiar?

E, já agora:

  • Faz sentido o Primeiro-Ministro, justificadamente preocupado com a "dramática baixa taxa de natalidade", anunciar publicamente o seu empenho no financiamento do aborto provocado? E, ainda por cima, classificar como hipócritas quem quer que seja?
  • Faz sentido o Ministro da Saúde aumentar as taxas moderadoras dos doentes verdadeiros de modo a "ganhar" 16 milhões de euros e, simultaneamente, estar de alma e coração empenhado no financiamento do aborto provocado para atingir os seus sonhados 20.000 abortos por ano, que custarão entre esses 16 a mais de 20 milhões de euros?
  • Faz sentido o Primeiro-Ministro e outros defensores do aborto provocado invocarem que o fazem para acabar com o drama do aborto clandestino? É esta metodologia que vão usar para acabar com a clandestina fuga aos impostos, com a clandestina fuga aos pagamentos devidos à Segurança Social, com a clandestina cópia de CD´s e DVD´s, com a clandestina manufactura de "roupa de marca", com a clandestina corrupção?
  • O financiamento do aborto provocado não é apenas um gigantesco negócio para a indústria abortista, à custa do drama das mulheres que para ele são empurradas e dos bebés que são mortos?
  • Não é melhor apoiar-se a família (pai e mãe, e não "mulher e outro responsável pela concepção" ), de modo a terem esse filho de que até o país está sequiosamente necessitado? Existe alguma mãe que, tendo sido apoiada, esteja arrependida de não ter abortado?
  • Não é melhor apoiar-se os "Pontos de Apoio à Vida", em vez de criar-se uns CAF´s, simples pontos de apoio à morte?

A APFN espera que o Primeiro Ministro e a Assembleia da República dêem mostras de bom senso e preocupem-se com os sérios problemas que ameaçam a sustentabilidade do País, não ignorando os fortes sinais a que até a Comissão Europeia está atenta devidos à desastrosa política de família que Portugal tem tido nos últimos trinta anos.

4 comentários:

Achadiça disse...

Neste texto infeliz não há um único argumento credível. Então as questões de semântica deixam-me abismada. Tudo o que se afirma resulta de juízos de interpretação livre e viciada.

Faz sentido em falar-se e, pior, escrever-se, "Interrupção"?

- O que é interrompida é a gravidez, não é a vida.

Faz sentido em falar-se e, pior, escrever-se "voluntária"? De quem?

- Da mãe naturalmente. Voluntária quer dizer por iniciativa própria e é o contrário de involuntária.

Faz sentido falar-se, e ainda por cima escrever-se, "despenalização"?

- Despenalizar é despenalizar. Só por pura e “reles” demagogia se faz referência à tabela de preços a cobrar por todos os cuidados prestados no quadro do Serviço Nacional de Saúde e se faz crer no seu financiamento (dos cuidados). È o mesmo que dizer que deveríamos penalizar todas as doenças e actos médicos porque lá estão contemplados. A portaria 567/2006 limita-se a actualizar os preços fixados pela portaria 132/2003 que se encontrava manifestamente desactualizada. Não determina qualquer financiamento.

Faz sentido em ser por opção da "mulher"?

- Só faltava agora os pais obrigarem as mulheres a terem filhos. Já agora, enquanto a lei condena as mulheres nunca ouvi a APFN apelar à responsabilidade dos pais quando estas se sentam na barra do tribunal, muitas delas, levadas a praticar a IVG por vontade deles.

- Quanto às observações feitas a propósito dos comentários do PM , todas pecam por tentarem colar a este assunto aspectos marginais que se inserem em contextos que nada têm a ver com a IVG (Taxas moderadoras, financiamento, fuga aos impostos, cd’s, dvd’s, corrupção). Estes senhores, por manifesta incapacidade e absoluta insanidade argumentativa recorrem a subterfúgios interpretativos enrodilhados, julgando assim, convencer e enganar os mais incautos, como se o problema não fosse suficientemente sério, para merecer uma abordagem responsável e leal, no respeito e consideração que as mulheres merecem.

- Cingab, tenho-o por pessoa de bem, atento e inteligente. Depreendo que ao colocar aqui, no seu berloque, este infeliz texto, concorde com o conteúdo e o método argumentativo. A troca de diferentes pontos de vista e de convicções merecerá sempre a minha consideração, porém, contriste-me verificar o seu deficiente critério na escolha de opiniões válidas e objectivas sobre este tema, que, como decerto concorda, merece ser tratado com total seriedade, circunstância que esta associação faz questão de subverter.
Boas bicadas

Cingab disse...

achadiça,
Muito obrigado pelos elogios!... Mas, infelismente, não sou tanto como você!...

Não concordo com a totalidade dos argumentos dos textos aqui colocados...
Nalgumas partes considero-os mesmo de baixa campanha...

Sabe @Achadiça,
Andamos a discutir coisas diferentes!... Por isso não voto nesta falácia!...
Para uns a Vida Humana começa às 10 semanas, outros às 500g, há ainda alguns (como eu) que acha que começa a quando na formação do zigoto... Quem como eu pensa não pode aceitar no aborto a pedido... Contudo não é isso que está em causa na pergunta do referendo, mas, de facto é-o!...
Por exemplo,
Se você não reconhece como Vida Humana um feto com 9 semanas, defende, e bem, que a mulher possa abortar... Aliás, nem lhe poderíamos chamar aborto!... Seria algo como tirar uma "coisa" de dentro de nós (mulheres)...
Eu, segundo a lei, como homem, serei considerado "o outro responsável pela concepção"... Fico triste por isso... Gosto de pensar que um novo ser tem pai e mãe!...

A pergunta, sobre a qual se deveria legislar era:
Para si, quando começa a Vida Humana, devendo ser protegida por lei como os demais cidadãos?
1. Na Concepção
2. Às 10 semanas
3. No dia do nascimento
4. outro

Depois sim, discutiríamos os casos de violação, má formação do feto, aborto a pedido e demais temas, mas saberíamos qual a posição do povo português...

Achadiça disse...

Cingab, como sabe nem a comunidade científica tem uma posição absoluta sobre o momento em que a vida é determinada, depois, independentemente da ciência, ainda temos a questão filosófica da vida e do ser vivo e a legitimidade da mãe exercer opção sobre si própria. Sim, porque é sobre ela que recai o ónus da escolha. Sem ela não havia discussão sobre o assunto. Acho que ficaríamos na mesma se começássemos por aí. Contudo, compreendo a sua posição. Eu não tenho essa preocupação porque não encaro a vida uterina como um bem superior à vontade expressa e consciente da sua portadora. São opiniões.
Boas bicadas

Cingab disse...

@Achadiça,
para mim a mãe está a exercer opção pelo filho