sexta-feira, 28 de abril de 2006

Ainda o 25 de Abril

Por ser, de facto, aquilo que penso aqui vai mais uma transcrição de um post de Mac Adriano do Blogue Bananas da República... Se ofender alguém desculpem, mas acho que é uma visão interessante e também minha...

O povo unido jamais será vencido! O slogan faz sentido… em França. Com crise ou sem crise, é o país em que o horário semanal é de 35 horas. Apesar dos exageros perpetrados sempre pelos mesmos (os que já pouco tempo antes tinham tentado deixar Paris em estado de sítio), o povo francês unido disse alto e bom som quem mandava, e o vil Villepin teve que voltar atrás na sua tentativa de imposição de uma lei selvagem que ninguém queria. Se é o povo que os elege, é a vontade do povo que eles têm que cumprir.

E em Portugal? Por aqui, o povo elege-os também, mas eles dão-se ao luxo de fazer tudo ao contrário daquilo que prometeram para ser eleitos. E parece isto ser normal, ninguém se preocupa. Vivemos num país pacífico, pelos vistos só isso interessa. Festejamos o 25 de Abril como se tivesse sido a cura de todos os males. Mas o povinho estúpido, que leva e cala do governo, dos compatriotas que elegeu, um dia revolta-se, mas sempre contra o alvo errado. Há 500 anos foi contra os cristãos-novos. Amanhã será contra quem? Brasileiros, africanos, europeus de leste? Já não falta quem os comece a acusar dos nossos males. Sócrates, pelo contrário, continua a passar com distinta nota em testes de popularidade.

Em Abril de 1974 a grande notícia, com direito a letras gordas, era: “As Forças Armadas tomaram o poder”. No fundo da página, em letras bem mais pequenas, escrevia-se: “Este jornal não foi visado por qualquer comissão de censura”. Apesar de a segunda notícia ser resultado da primeira, hoje apenas a segunda se mantém importante. Apesar dos esforços, que já existem, para inverter a situação, a liberdade de expressão é a única coisa concreta que ganhámos com o 25 de Abril e da qual continuamos a usufruir. As Forças Armadas tomaram o poder. Mas, a seguir, entregaram-no a estes corruptos que hoje o detêm. Se neste país foram os militares, e não os políticos, que derrubaram Marcelo Caetano, por que motivo hoje não consegue sequer ir a votos para ser Presidente da República quem não tem uma forte máquina partidária por trás? Por que motivo é que para se ser eleito para deputado ou ministro se tem que pertencer a um partido ou por ele ser apoiado? Posso dar a minha opinião, e essa é a verdadeira conquista. Mas teríamos conquistado este direito mais tarde, naturalmente, mesmo sem 25 de Abril.

Não nego a importância da data. Antes isso do que coisa nenhuma. Mas chegados a um tempo em que criminoso não é aquele que mata um pacato cidadão, mas sim quem defende a pena de morte para esse assassino; em que criminoso não é o vândalo que destrói sinais de trânsito, caixotes do lixo ou bens alheios, mas sim o polícia que se enerva e lhe dá uma tareia; em que criminoso não é o juiz que solta um réu potencialmente perigoso, mas sim o polícia que teve a desfaçatez de o prender; um tempo em que as chamadas associações de defesa dos direitos humanos insistem em dar mais importância aos direitos dos assassinos do que aos das vítimas; finalmente, um tempo em que os torturadores da PIDE continuaram à solta porque ninguém se dignou fazer justiça em relação a eles; chegados a este tempo – dizia –, a ilação que daí tiro é que as revoluções, para serem eficazes, não se fazem com cravos, mas com balas. Porque as moscas mudaram, mas a merda continua a atolar-nos. O 25 de Abril mudou o país, mas nem tudo foi para melhor. À oligarquia sucedeu a partidocracia. A democracia, essa, ainda está por cumprir. Os trabalhadores ficaram a ganhar, ao menos, o feriado. Mas isto enquanto, sob qualquer pretexto, não lho tirarem.