quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Provinciano, Paroquiano e Bairrista

Quando há um povo que “berra”, vêm logo os intelectuais de Lisboa falar de provincianismo, guerras paroquias, histerismo, gente que não tem nada para fazer, etc, etc…
Eu sou provinciano e paroquiano (no sentido crítico da palavra)!
Se dizer alto e bom som que sou de Canas de Senhorim, nascido e criado, que tenho orgulho de ser canense e que quero tudo de bom para a minha Vila (uns dizem aldeia, outros ainda rua)… Se dizer bem alto e defender isto e ser provinciano (eles estão a pensar bacoco) eu sou provinciano!...
Quando me perguntam de onde sou eu digo de sou de Canas de Senhorim, não digo como alguns que são de Lisboa… Mas, moram no Cacém, dormem com o amante em Cascais, passam o fim-de-semana em Óbidos, passam férias no Algarve. Esquecem que nasceram em Pucadiça de Cima (terra também com muitas belezas), têm o BI e o cartão de eleitor em Agualva do Mato (porque concorreram nas autárquicas para fazer um favor ao amigo de partido) e têm um domicílio fiscal em Trancozinho de Bestiela porque têm um sócio de um negócio que se calhar até desconhecem… Mas são de Lisboa!... Alguém que goste da sua terra faz-lhes uma grande confusão!...
Querem juntar tudo em grandes aglomerados urbanos sem identidade, sem sentir… Querem pôr um lapense a dizer que é de Canas de Senhorim, ou então de Nelas e porque não de Viseu… Se eu fosse da Lapa do Lobo teria orgulho da minha aldeia!...
Eu sou provinciano e paroquiano!
Porque se fosse de Lisboa consideraria uma calamidade a encerramento de uma empresa com 300 funcionários com uma população de 50000 pessoas (0.6%), mas algo justificável em Canas de Senhorim que se perdem 1800 postos de trabalho numa população de 5000 pessoas (36%) … Consideraria uma violência esses trabalhadores manifestarem-se a um qualquer ministro ou secretário de estado que recusa-se recebê-los (como fez o dignissímo, aldrabão e agitador de consciências, João Serra)…
Mas eu não sou de Lisboa, eu sou provinciano e paroquiano!
Recuso ser absorvido por Nelas, recuso absorver as identidades da Póvoa de Sto. António, Vale de Madeiros ou Felgueira, recuso não considerar as particularidades das pessoas da Urgeiriça, recuso a morte do bairrismo Paço/Rossio…
Há vida em Freixo de Espada Á Cinta, Mundão, Trancozinho de Bestiela, Agualva do Mato ou Pocadiço de Cima… Não são provincianos os que querem a sua escola primária a funcionar, não são paroquianos os que querem uma saída de auto-estrada…
Cada vez sei menos o que é uma Democracia, mas o Sr. Pacheco Pereira da Quadratura do Círculo e do Abrupto, não é mais importante que o Chico da Engrácia de Pocadiço de Cima… A Constança Cunha e Sá não é mais sábia que Felismina Santiago de Trancozinho de Bestiela… Marcelo Ribeiro de Sousa não tem mais razão que o Velho Saca Potes de Agualva do Mato… Miguel Sousa Tavares não é mais oleoso que o azeite feito na Aguieira… O Aldra não é mais agitador que Luís Pinheiro… O Dr. João Serra não é mais conhecedor que o Dr. Boaventura de Sousa Santos… José Junqueiro não tem fezes mais belas que as do Cingab…
Em Freixo de Espada Á Cinta, Mundão, Trancozinho de Bestiela, Agualva do Mato ou Pocadiço de Cima e até em Canas de Senhorim há pessoas que pensam, que têm opinião, que sabem mandar umas bocas… Têm direito a falar, em aparecer na comunicação social a expor os seu problemas com respeito…
E desculpem o provincianismo, o “paroquianismo” ou o Bairrismo… Mas, eu vou lutar por Canas de Senhorim até morrer!...
Desculpem lá o mau jeito!