terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Património da Humanidade

O Carnaval de Canas de Senhorim
António João Pais Miranda
in Canas de Senhorim História e Património
Resultando da rivalidade entre dois dos bairros mais representativos da terra, (Paço e Rossio) o Carnaval de Canas de Senhorim, segundo reza a história, desde há 300 anos se vem realizando regularmente, sempre actual e rejuvenescido, sem todavia por em risco a genuinidade que o caracteriza.
Para além de integrar motivos comuns a outros Carnavais designadamente o cortejo alegórico, que nos principais dias da festa, calcorreiam as ruas da vila, o Car­naval de Canas detém todavia, características muito próprias que lhe conferem um cunho extremamente popular, sendo estes festejos carnavalescos, considerados"sui generis” na região.Logo a partir do primeiro dia de Janeiro e antecedendo a data que o calendário propõe para a realização do Carnaval, os canenses vivem de forma intensa toda uma série de brincadeiras inofensivas, quase todas redundando em motivo de confrater­nização entre novos e velhos.
Efectivamente, o que para o comum dos cidadãos nada quererá dizer, tem para as gentes de Canas um significado especial. Referimo-nos aos célebres pizões, pane­ladas, farinhadas, cegadas, batatada, queima do entrudo, etc., que constitui a parte mais rica do Carnaval desta industrial Vila.
Os pizões, por exemplo, são uma inofensiva brincadeira, consiste em depen­durar de uma pedra presa por um cordão a porta do canense visado, sendo o mesmo accionado de longe, o que obriga os proprietários a levantar-se, seja a que horas for da noite, e vir até à porta saber quem é. É claro que nunca sabem quem os procura. Ocasiões há no entanto, em que este pizão tem um sentido polivalente, pretendendo motivar uma confraternização entre visitante e visitado. Daí o facto comum de às tantas horas da noite se assar umas chouriças caseiras acompanhadas de broa e do famoso vinho do Dão. Quanto à farinhada, "pobre" da cachopa da terra que tenha a veleidade de, na segunda feira de Carnaval até ao meio dia, sair à rua, nem que seja para ir à fonte. É que os jovens foliões nessa manhã, estão de olho à espreita para enfarinhar a primeira que lhes surja pela frente. Se as farinhadas são mais destinadas às jovens, o mesmo não acontece com as paneladas, que nor­malmente visam atingir os mais velhos da localidade. Pela calada da noite ou do dia, uma panela de barro cheia de bogalhas, é arremessada sub-repticiamente para o inte­rior das silenciosas habitações provocando desusado estrondo, e pondo, natural­mente os cabelos em pé das velhinhas atingidas. Mas, também aqui, as bogalhas podem dar lugar a nozes ou avelãs, quando se pretende agradecer algo a alguém.
Como nota curiosa, registe-se que quando o visado não recebe bem a folgança, o que raríssimas vezes acontece, os promotores não desistem. Antes pelo contrário redobram a malícia e só param quando forem aceites.
Pizão a Património da Humanidade por proposta de Cingab in http://municipiocds.blogspot.com/